tristeza ou a arte de ser infeliz

Um homem quer pendurar um quadro. Já tem o prego, mas falta-lhe um martelo. O seu vizinho tem um. E, por isso, o nosso homem decide pedir-lho emprestado, quando uma dúvida o assalta:
«E se não mo quiser emprestar? Estou agora a lembrar-me de que ontem me cumprimentou com um ar um pouco distante. Talvez tivesse com pressa. Mas quem sabe se a pressa era apenas uma desculpa e o homem tenha algo contra mim. O que poderá ser? Nunca lhe fiz nada. Deve ser alguma coisa que meteu na cabeça. Se alguém me pedisse uma ferramenta emprestada, eu responderia imediatamente que sim. Porque não há-de ele fazer o mesmo? Como pode alguém negar um favor tão simples a outra pessoa? É gente deste tipo que nos estraga a vida. E deve pensar que dependo dele. Só porque tem um martelo. É o cúmulo.»
O homem, furioso, vai à procura do vizinho, toca à campainha e, quando a porta se abre, antes que o vizinho tenha tempo de dizer "bom dia", grita-lhe furioso:
-Fique lá com o seu martelo, grande estúpido!

História de Paul Watzlawick, autor do livro "A arte de ser infeliz"
Demonstra como se pode entrar facilmente num ciclo vicioso e auto-destrutivo, sem qualquer intervenção do exterior!

2 comentários:

LUIS FERNANDES disse...

Olá.
Ao ler esta história, talvez em contraposição -também porque já sou velho-, há mais de 20 anos li um conto nas selecções do Reader's Digest que nunca me esqueci. Era contada na primeira pessoa e mais ou menos assim:

“Durante muitos anos, sempre que, por qualquer razão, eu tivesse necessidade de ir ao meu sótão, às águas-furtadas, ia pedir emprestada uma velha escada ao meu vizinho. Às vezes dava por mim a interrogar-me da razão de o andar sempre a incomodar. Afinal nem éramos assim tão chegados. Cada família em sua casa, sem grandes intimidades. Porque não comprava eu uma escada? Lá dava por mim a contentar-me pelo facto de o meu vizinho, perante o pedido de empréstimo, ser sempre tão prestável e simpático. E nunca comprei uma escada.
Um dia, próximo do Natal, verifiquei que um grande camião de mudanças estava estacionado em frente à porta do meu confinante. Havia pessoas num vai e vêm carregados. Deu-me um baque no peito: “que pena! Vou perder umas pessoas muito simpáticas e respeitadoras!”.
Passadas umas horas bateram à porta. Era o meu vizinho a despedir-se: ia viver para outra parte da cidade. Mas tinha uma recordação para mim: ao seu lado estava a velha escada que durante anos lhe pedira emprestada.”

Pedro Paiva disse...

Viva Luís! Excelente história. Agrada-me mais do que a que aqui contei. Apenas queria salientar que por vezes ficamos furiosos apenas como consequência dos nossos pensamentos, sem qualquer intervenção exterior. Por vezes ficámos irritados com alguém, que continua a sua vida impavidamente, sem se aperceber que estamos irritados. Isto porque, muitas vezes pretendemos saber o que os outros pensam. E muitas vezes erramos. Mas o seu exemplo pela positiva é bem mais interessante!
Obrigado pela partilha da história!

Abraço